quinta-feira, 1 de julho de 2010

Jean Paul S. [122]

"Johanna: Por minha culpa?
Frantz: Eu devia ter percebido que ela ia estragar tudo. Para expulsar o tempo deste quarto foram-me precisos cinco anos; para o trazer para cá outra vez bastou-lhe a si um instante. (mostra o relógio) Este meigo animal que ronrona à volta do meu pulso, e que eu enterro na algibeira quando ouço a Leni bater à porta, é o Tempo Universal, o tempo das informações horárias, dos guias de caminho de ferro e dos observatórios. Mas que utilidade pode ele ter para mim? Sere eu, por acaso, universal? (olhando para o relógio) Acho suspeito este presente.
Johanna: Muito bem. Restitua-mo.
Frantz: Nem pensar! Fico com ele. Só gostava de saber porque é que a Johanna mo deu.
Johanna: Porque ainda estou viva e o Frantz também.
Frantz: Viver, o que é? Esperar por si? Eu já não esperava por nada antes de mil anos. Nunca apago a luz; a Leni vem quando lhe apetece; eu dormia quando calhava, quando o sono se dignava a visitar-me; numa palavra, nunca sabia as horas. (com azedume) Agora é o vaivém dos dias e das noites. (olhar ao relógio) Quadro e vinte e cinco; a sombra alastra; murcha o dia. Detesto as tardes. Quando a Johanna partir, será noite; e aqui, à luz perpétua deste candeeiro, eu sabê-lo-ei... e terei medo. "

Sem comentários: