quinta-feira, 8 de julho de 2010

Dis-álogo.

E: Olá.
R: Olá.
E: Como te chamas?
R: Rodrigo.
E: O nome dos teus amigos?
R: Não sei.
E: De onde vens?
R: Não sei.
E: O Nome dos teus pais?
R: Não sei.
E: O Nome dos teus irmãos?
R: Não sei.
E: Tens irmãos, ao menos?
R: Não sei.
E: Do que gostas de fazer?
R: Não sei.
E: Gostas de ler?
R: Não sei.
E: Gostas de ouvir música?
R: Não sei
E: Gostas de ver tv?
R: Não sei.
E: Gostas de conversar?
R: Não sei.
E: Existes?
R: Não sei.
E: Como te chamas, mesmo?
R: Rodrigo.


quinta-feira, 1 de julho de 2010

Jean Paul S. [132 e 133]

"Frantz: Não faz outra coisa. Generosa, virtuosamente. Como um bom soldadinho. O que é, é que mente muito mal. Sabe? Para uma pessoa mentir bem é preciso que ela própria seja uma mentira: é o meu caso. A Johanna, pelo contrário, é verdadeira. Quando olho para si, conheço que a verdade existe, mas que não está do meu lado. (rindo) Se há alguns órfãos em Düsseldorf, aposto que estão mais gordos que tordos!
Johanna (com uma voz mecânica e teimosa): Os órfãos de Düsseldorf sucumbiram! A Alemanha morreu!
Frantz (brutalmente): Cale-se! (pausa) Então? O pior caminho, sabe agora qual é? A Johanna abre-me os olhos de tanto tentar fechar-mos. E eu, que todas as vezes percebo o jogo, faço-me seu cúmplice porque... porque não quero perdê-la.
Johanna (que recobrou um pouco a presença de espírito): Cada qual faz então o contrário do que quer?
Frantz: Exactamente."

Jean Paul S. [131]

"Johanna (num grito): Não!
Frantz: Bem vê que conhece a saída.
Johanna (com paixão): Nós fomos felizes.
Frantz: Felizes no Inferno?
Johanna (reatando com ardor): Felizes no Inferno, sim. Não obstante a sua porfia, não obstante a minha. Suplico-lhe, suplico-lhe; fiquemos tal-qual somos. Esperemos sem uma palavra, sem um gesto (agarra-o pelo braço). Não mudemos"

Jean Paul S. [122]

"Johanna: Por minha culpa?
Frantz: Eu devia ter percebido que ela ia estragar tudo. Para expulsar o tempo deste quarto foram-me precisos cinco anos; para o trazer para cá outra vez bastou-lhe a si um instante. (mostra o relógio) Este meigo animal que ronrona à volta do meu pulso, e que eu enterro na algibeira quando ouço a Leni bater à porta, é o Tempo Universal, o tempo das informações horárias, dos guias de caminho de ferro e dos observatórios. Mas que utilidade pode ele ter para mim? Sere eu, por acaso, universal? (olhando para o relógio) Acho suspeito este presente.
Johanna: Muito bem. Restitua-mo.
Frantz: Nem pensar! Fico com ele. Só gostava de saber porque é que a Johanna mo deu.
Johanna: Porque ainda estou viva e o Frantz também.
Frantz: Viver, o que é? Esperar por si? Eu já não esperava por nada antes de mil anos. Nunca apago a luz; a Leni vem quando lhe apetece; eu dormia quando calhava, quando o sono se dignava a visitar-me; numa palavra, nunca sabia as horas. (com azedume) Agora é o vaivém dos dias e das noites. (olhar ao relógio) Quadro e vinte e cinco; a sombra alastra; murcha o dia. Detesto as tardes. Quando a Johanna partir, será noite; e aqui, à luz perpétua deste candeeiro, eu sabê-lo-ei... e terei medo. "

Jean Paul S. [118]

"Werner: QUe receias tu, ficando aqui?
Johanna (sempre glacial): Antes de ti atraíram-me a morte e a loucura. Lá em cima, essa atracção renasce. E não quero sentí-la outra vez. (pausa.) Parece-me às vezes acreditar ainda mais que o teu irmão na história dos caranguejos.
Werner: Porque o amas.
Johanna: Porque esses caranguejos são verdadeiros. Os loucos dizem a verdade, Werner.
Werner: Sério? Qual Verdade?
Johanna: Há só uma verdade: o horror de viver. (Calorosamente) Não quero! Não quero! Prefiro mentir a mim própria. Se gostas de mim, salva-me. (Mostrando o tecto com um gesto) Esta tampa esmaga-me. Leva-me para uma cidade onde tudo seja de toda a gente, onde todos mintam a si mesmos. Onde haja vento. Vento que venha de longe. Voltaríamos a ser o que éramos, juro-te Werner! Encontrar-nor-íamos outra vez..."