Eu gostava de saber escrever.
A sério. Não te rias.
Fogo, para! Não gozes comigo, não gosto que gozem comigo.
Por que és tão má? Eu só queria aprender a escrever.
E por favor, não me digas que para isso basta encher um texto com vírgulas, que não é verdade.
Canta pra mim. Canta enquanto eu escrevo.
Tão doce a tua voz. Mas escrever, é mentira.
Não. Mentira é esta realidade. O trovador do real, a flertar com o imaginário.
Será sinal de que está a tornar-se num ser delirante?
Mal sinal, mal sinal.
Outro dia tive a ler Caeiro. Todo poemas deles na antologia que tenho do Pessoa.
Grande mestre teve o senhor Campos. Grande mestre espero eu querer ter.
Grande homem, com grandes ideias.
Aliás, não fosse já eu tão identificado com certos aspectos de Campos, e passaria a ter Caeiro no topo do meu pedestal.
Meu velho jovem. Sofista por natureza. E só o praticava porque assim é que era. Sua natureza. Amante das simplicidades, és autor dos mais complicados dos simples pensamentos existentes.
Mas ainda que sejam os mais complicados, não deixam de ser o que são, simples.
E esses velhadas ainda andam por aí, a dissecar a tua obra, a tua arte. Como se nela, estivesses a dizer algo mais do que o que é dito. Como se existisse algum mistério na coisa. Mas como tu mesmo nos ensinaste, o único mistério real das coisas, é que as coisas não têm mistério nenhum.