Tenho o papel à mão, a mão e a coxa, esquerdas, fazem de suporte.
Oiço Coltrane(ou melhor, ouvia. Estou com Geirinhas no repeat agora) e espero que o comboio arranque. Foda-se! O pensado é algo tão rápido! Tão rápido, que há havia arrancado o comboio, e eu ainda nem havia escrito que estava a espera.
Passo a folha para a perna direita.
Ouvi-la a cantar, inspira-me. Faz-me querer gravar mais declamações. Talvez amanhã grave mais um ou dois Campos.
Esta gravação tem um ruído de fundo constante, que apesar de chato é muito charmoso.
Nossa, estou a ficar sem papel. Daqui a pouco escrevo em lenços.
Agora parei de escrever. Sobra-me tão pouco espaço na folha, que acho que quero que ele dure para sempre. Mas qual o sentido em preservar o papel para poder escrever, se nunca vir a escrever algo lá? Esperar pelo momento perfeito? E eu saberei distingui-lo quando chegar? E se o momento perfeito for este? Estou a escrever porque me apetece, e não por julgar ser o momento perfeito. Se for, tanto melhor. Se não o for, azar. Soube bem à mesma.
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