sábado, 10 de março de 2012

Carta a Nuno Markl

Hoje à tarde, vinha eu do Pingo Doce da Parede, tinha ido às compras para a casa. No caminho de volta, vinha por ruas que não conhecia (mudei-me para esta casa na passada segunda –feira, ainda não estou habituado aos caminhos entre ela e o centro da Parede), quando de repente, dou por mim diante de um dos meus maiores ídolos (arrisco a dizer, o meu maior ídolo português), a entrar em sua casa. Já há uns dias andava a dizer que tinha de descobrir onde é que o Nuno Markl morava, mas ainda não o tinha feito. E ali estava eu, por acidente, diante dele. Chamei-o, tratei por Nuno, a intimidade unilateral partilhada por nós, fazia-me com que me sentisse no direito de o fazer. Com algum ar de embaraço (devo supor que nunca se tenha, de facto, habituado à ideia de ser famoso), e talvez algum medo (compreendo que os meus 1,85 e meu habitual chapéu negro possam parecer assustadores numa primeira abordagem), foi de forma muito pronta que recebeu o meu chamado e estendeu-me a mão. Parabenizei-lhe pelo trabalho, e pelo merecido prémio (de melhor autor do passado ano). Para fazer conversa, disse-me logo que ainda não havia recebido, ao que exclamei: “malditos.”. O meu estado era de êxtase, encontrava-me incapaz de processar qualquer linha racional com mais de três palavras, e que fizesse qualquer tipo de sentido no momento. Muito teria eu para dizer mas, como é óbvio, não sou o centro da vida de ninguém senão da minha. Pobre homem, estava a chegar à casa, junto do filho e da mulher, deveria querer descansar. Disse-lhe logo que não queria tirar-lhe mais tempo ao fim-de-semana, reiterei os parabéns pelo trabalho feito, e segui, ainda em êxtase, para casa. Depois que comecei a retornar à realidade, resolvi questionar-me: O que raios passa-se? Por que parecia eu, um ser emotivo-racional, com uma groupie ao encontrar meu ídolo? Parece-me demasiado estranho, mas a olhar para trás, faz-me todo o sentido. Há certas relações que são unilaterais. Por razões óbvias, não comunico com o Markl ao ouvir os seus ‘cromos’ ou ‘primos’, mas ele comunica comigo. E já muitas foram as horas que passei ao lado dele. É como um grande amigo, que está sempre a ajudar-nos, seja a fazer-nos rir por estarmos bem, seja a fazer-nos rir por estarmos a chorar, que sequer saiba aquilo que está a fazer, mas ele sempre esteve lá. Muitas foram as solitárias horas que passei a ouvir ‘cromos’ ou ‘primos’, que se me fizeram brotar sorrisos na minha cara. Uma vez, vinha no comboio a gargalhar tanto a ouvir um cromo, que dali a pouco, toda a carruagem estava a rir-se da minha gargalhada e comigo. Altamente contagiante! Até, às custas do senhor Markl, adoptámos eu e meus amigos de faculdade o grito de guerra “Aquela Máquina!”, baseado nas velhas publicidades da Regisconta, com as quais travámos contacto via ‘Caderneta’. É inevitável, a minha vida encontra-se altamente contaminada por ideias tuas, e pelo teu trabalho. E é isto que explica todo o meu embaraço e falta de jeito para falar, só de te ver à minha frente.

Obrigado por tudo que fizeste por mim e pelos meus.
Rodrigo Alencar,
10/03/2012

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